Marketing do medo
O medo mobiliza e paralisa a todos. Desde os tempos em que frequentávamos as cavernas, principalmente em nossa relação presa/predador, de certa forma ele nos ajudou a chegar até aqui protegendo-nos de situações de perigo.
No marketing político, o medo é uma das práticas mais comuns quando se pretende chamar a atenção e fazer com que as massas sejam levadas a acreditar em determinados discursos. De ditador a democrático, quase todos usam a técnica para o “bem ou mal” quando querem jogar pesado com a opinião pública. Imposição, ameaça, palavras de ordem, som, cores, ícones, bandeiras, tipologia, insígnias, aclamações, liturgias, brasões, mitologias, etc. são instrumentos que compõem o grande arsenal. A imposição é um poder simbólico que carrega consigo alta dosagem de ordem: faça, cumpra-se aquilo que está sendo dito. A ameaça fragiliza, geralmente traz junto um poder recriminatório implícito, outras, bem explícito, ou seja, se você não fizer isso vai sofrer as consequências. As cores, as imagens, ícones, fontes, diagramação e outras organizações do material visual são estímulos a nossa percepção. O “card” que leva a assinatura de Bia Kicis, deputada federal, reúne poder simbólico performático de alto impacto ao propor visão de mundo, regras, ordenamentos e sugestões. Ele deve ser visto como estratégia que nos remete a uma ordem, seguida de ameaça. Se você não acreditar em mim “Seus filhos arcarão por suas decisões: para o bem ou para o mal”. A disciplina também não deixa de ser um signo muito apropriado no material: “Há 23 anos jovens festejavam a vitória de Chaves na Venezuela. Hoje seus filhos comem lixo nas ruas”. A fotografia serve como referência ao texto e produz uma “verdade”, pois revela em primeiro plano um homem com uma criança nos braços cercado por muito lixo jogado nas ruas. Ícones da pobreza urbana, de modo geral. As cores trazem uma conotação de forte impacto. No caso do "card" de Bia, preto e vermelho estão em destaque. Esses sistemas cromáticos remetem, neste conjunto, às trevas, à escuridão e ao vermelho do sangue derramado por intenso sofrimento. Quando pensar na campanha, saiba que o medo, que nos tira o chão, pode ser seu aliado em busca por votos. Para isso, um bom argumento geralmente é porta aberta para a razão.** O autor é Jornalista, Redator Freelancer e Consultor em Marketing Político.