Política da mulher
Raríssimas campanhas eleitorais o machismo é pauta. Políticas relacionadas à mulher sempre são “perfumaria” na cantilena das propostas das candidatas, inclusive. Saúde, habitação, segurança, e por aí vai - torna-se cansativo repetir aqui.
Saber dialogar com o nicho feminino, que envolve a maioria, quase nunca foi o forte no marketing político, porém o é nas marcas. Uma campanha publicitária recente trata o machismo, crescente, da forma como o setor trata - com excitação, emoção, solicitação de compra, imagem ao serviço da marca, texto pobre que contribui para sua pouca utilidade. Fazer uma análise de sua profundidade também não cabe aqui, porque a publicidade serve para produzir desejo de consumo, e não para conscientizar ninguém. A peça é assinada por fabricante de automóveis, e pode ser assistida ao final deste texto. Seu intento - imagina-se - é atenuar nosso machismo pela fidelização ao produto. O roteiro da fabricante de carro vai na direção descrita a seguir. Cenas comuns no trânsito. Mulheres ao volante, ruas vazias em São Paulo. Off- (voz masculina) _Ôôôô... vai pilotar fogão. Personagem 1 dentro do carro anunciado, plano fechado: - Pilotar fogão? Corta para imagem na cabine de avião com a personagem ao comando e a identificação: Helena Lacerda - pilota da aeronave. Personagem 2. _Pilotar fogão? Corta para sala cirúrgica, a legenda a identifica: Andrea Ortega - Cirurgiã. Personagem 3. A surfista Yanca Costa, com o mesmo bordão. - pilotar fogão? Cena. A personagem surfando. Personagem 4. Fabíola Rogano, executiva de engenharia da empresa, faz a mesma pergunta dentro do carro. Corta para cenário “high tech” que sugere sua rotina. Por fim, a argentina Paola Carosella, chef e empresária, faz a mesma pergunta e, na cozinha, ela mesmo responde: "pilotando" fogão, - como se isso fosse um problema... Pilotar a gente pilota o que a gente quiser. O comercial encerra com voz em off feminina e a frase de efeito com palavra em inglês e assinatura da marca. No filme comercial a impressão é de desconforto. Percebe-se que o contexto não deixa as personagens à vontade com o roteiro, como se a mulher não pudesse ser o que ela “quiser” no mercado de trabalho, quando na realidade temos de pensar que a mulher não pode viver do jeito que ela quer, receber o mesmo valor que os homens na profissão escolhida, ser respeitada na sociedade, na maioria das vezes nem mesmo dentro de sua família, viver sem medo de ser violentada em cada esquina.Ela pode pilotar avião, sim, mas não pode colocar uma roupa mais justa sem ser confundida como objeto à disposição de nós homens, andar livremente pelas ruas.... Ela pode, há muito tempo, ser engenheira em qualquer multinacional, mas não se sente segura nem mesmo dentro de sua casa, sob a violência moral, sexual, econômica, etc. A mulher pilota tudo hoje em dia, menos sua liberdade que é controlada pela cultura machista em pleníssimo vigor.** O autor é Jornalista, Redator Freelancer e Consultor em Marketing Político.