Como fazer marketing em tempos de crise

O marketing não será mais o mesmo
Os efeitos da tecnologia padronizam nossa percepção e sentido. Sob o domínio das mídias digitais não conseguimos oferecer qualquer resistência.

*Por Didi Pasqualini

Se tudo está mudando, por que o marketing deve ser o mesmo? Vivemos uma época de grandes mudanças, pautadas pela automação, "gameficação", desafios ecológicos e, por que não, o marketing político?

Há certo grau de desigualdade nas candidaturas. Há sempre grupos que têm mais dinheiro, são mais bem preparados ou posicionados, gozam de alguns privilégios - como gênero ou raça, têm outros atributos que, logo de partida, dão a esta camada da sociedade certa vantagem competitiva que devemos levar em consideração, o que, na maioria das vezes, os estrategistas não fazem.

Por mais estratégico que seja, ao olhar para os meios digitais como “ambientes” em que as massas “se encontram”, restam poucas dúvidas sobre como os algoritmos estão mudando a percepção de realidade do consumidor. A questão a ser debatida é: como resgatar o eleitor das bolhas individualistas de comodidade em que ele vive e mostrar que precisa ter uma compreensão de mundo diferente da virtualidade? Ou ainda, como a política pode sair do seu local específico de fala e ocupar a pauta de percepção das pessoas, sem repetir o velho e batido tema da corrupção?

Ao mesmo tempo que a tecnologia em rede é útil ela não deixa de ser prejudicial. Neste caso, não apenas ao marketing político, mas a nossas relações - sejam afetivas, amorosas, amizades, de cidadania, trabalhistas, etc.

Isso acontece porque, no modo analógico, o tempo das coisas não podia ser “encurtado” como no modo digital. Para chegar a um programa favorito, um veículo de comunicação tinha sua programação, consumiam-se o “bom e o ruim” para chegar ao “clímax”.

As mídias digitais permitem selecionar só aquilo que a gente considera “bom”; isso provoca certo distanciamento das informações diferentes, contraditórias, e assim vamos mudando nosso “perfil” de pensamento. Somos educados a viver apenas o gozo como única forma de aceitar o mundo.

Há muito que os psicólogos nos chamam atenção para a sociedade mimada em que estamos nos transformando. Não suportamos mais quem não diga o que a gente quer ouvir. Como efeito disso tudo, a amargura e o tédio têm sido nossas companheiras cotidianas.

Tudo que está fora da atmosfera “espetacular” e que não atenda ao perfil “on demand” não atrai mais nossa atenção. Mergulhamos nesta sombra em busca de nossa “felicidade” e não refletimos o mundo como algo importante. Há que considerar que um dos motivos é o nosso prazer, algo entendido nesta modernidade como competição e que deve ser hiper midiatizado para nossa “felicidade”.

Diferentemente da ideia de que cada pessoa tem a sua percepção da realidade, as redes têm rompido com esta pluralidade e tornado, pelo hiperconsumo, uma percepção única da realidade. O marketing político de ponta não deve esquecer de áreas esquecidas na “educação” moderna, como a sociologia, história, filosofia, psicologia e arte. Quem se atentar para isso tem chance de fazer sucesso, pois vejo muita gente cansada da mesmice.

** O autor é Jornalista, Redator Freelancer e Consultor em Marketing Político.

Redator freelancer | Marketing político

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