O PSDB e o novo
Muitas vezes as tentativas de mudança nos deixam uma lição: ganha-se no marketing, mas perde-se na essência.
Talvez seja o caso do PSDB, um partido que, no Estado de São Paulo, principalmente, vem sendo o grande protagonista há pelo menos três décadas e hoje vive uma grande crise daquilo que chamo de ditadura do novo.
A agremiação conviveu com grandes nomes, como Fernando Henrique, Mário Covas, José Serra, Geraldo Alckmin e tantos outros. A velha guarda que restou não só está perdendo o protagonismo como é vista pela mídia como “ilustres” figuras, mas que não cabem mais dentro da legenda em face da ordem do descarte rápido das coisas.
É importante lembrar que o PSDB tinha uma identidade singular ao protagonizar com o PT grandes embates e disputas eleitorais.
Talvez o apoio ao Bolsonarismo, não só em 2018, mas durante seu governo, o fez perder a realidade brasileira em busca por populismo, que nunca foi seu forte.
Ao apoiar Bolsonaro em São Paulo em troca de sua afirmação no poder, o PSDB deixou de ser protagonista do processo para ser visto como oportunista. Abandonou seu candidato oficial apostando que, mesmo elegendo seu adversário, poderia dar a volta por cima em 2022. Não aconteceu.
O partido não entendeu que a corrosão bolsonarista poderia contaminar seus quadros.
As prévias para a escolha de seu candidato à presidência expõem essa decadência.
No calor da fracassada votação entre Doria e Leite, na semana passada, Mara Rocha, deputada federal do partido, disse em tom de desabafo que tentaram comprar seu voto e, ao prometer sua saída da agremiação, falou que votaria em Leite. Talvez não seja difícil saber quem tentou “comprar” seu voto.
Outro que deve deixar o partido é o ex-governador Geraldo, que decide se topa ser vice de Lula, ou migra para uma sigla que lhe dê condições, além de formar um grupo, de ter um discurso renovado que lhe garanta a volta ao Palácio dos Bandeirantes. Muitos parlamentares e integrantes de peso esperam a janela partidária e devem fazer o mesmo.
O sonho de se credenciar como “terceira via”, aposta de João Doria, fica cada vez mais distante. Com Moro e talvez Ciro no jogo, a polarização esperada pelos experts do partido talvez não aconteça.
Este quadro reduz o discurso de Doria, assim como o que terá para apresentar à população. Também resta pouca coisa a mostrar. Talvez repetir o que o partido fez, principalmente no Estado de São Paulo, possa recuperar alguns pontos perdidos e dar a sua militância algum discurso. É uma esperança.
Por fim há que se pensar aqui, nas estratégias de marketing. Posso garantir que a renovação de uma marca partidária não é sinônimo de troca de nomes. Um dos enganos pode estar aí. A marca deve ter a continuidade de projetos e estes devem ser renovados. Há certo erro nas agremiações políticas em achar que eliminando o “velho” o “novo” vai ocupar protagonismo perdido. A questão aí é convivência e não conveniência.