O vazio infinito

O vazio infinito
Marketing Político
Perceber e reagir, muitas vezes, não dependem do que vemos, mas do que sentimos.

*Por Didi Pasqualini

Neste primeiro texto de 2022 escrevo com certa desesperança, que contrasta com a euforia que tomou conta da gente no período de festas e encontros que fazem parte da tradicional virada.

Penso que o tempo - essa ideia vazia e superficial - que a gente marca no relógio está nos pressionando além daquilo que podemos suportar. Muitos pesquisadores e especialistas apontam para o excesso de informação, que tem transformado nossa ideia de tempo, espaço, consumo, interação com “coisas” e pessoas neste looping de baixo astral. A conectividade, aliada à automação, pandemia, desemprego, falta de perspectiva de futuro, nos aprisiona às redes e nos rouba a visão de mundo, as ideias, a criatividade, suga todas as esperanças... Estamos cada vez mais sendo incapazes de conduzir nossa própria vida.

Tornamo-nos mecanizados, automatizados, vazios, sem graça e originalidade. Não deixamos de interagir com as “coisas” em rede nem mesmo no período de férias, descanso, ao lado dos amigos, parentes… Isso está afetando aquilo que a gente pensa e faz.

Dificilmente encontramos alguém interessante para conversar, pois as bolhas se encarregam de moldar nossos comportamentos, ideias, pensamentos. Estamos nos tornando iguais ao Big-Mac, o mesmo padrão em qualquer lugar.

Esse incômodo - não traduza como pessimismo - não é só meu. Um grande banco lançou campanha de final de ano sugerindo que as pessoas desliguem as luzes digitais e religuem as suas. Logo este banco que criou uma tal de Bia para falar com os clientes, sem a necessidade de alguém humano para o atendimento.

Vivemos a era da informação, mas de pouco conhecimento, baixa reflexão das coisas e alta carga emocional. Apelamos aos sentimentos que são apropriados para fixar emoção em nosso corpo conectado, simplesmente para chamar a atenção. Muitos já usam esta “simplicidade ingênua” como estratégia de marketing. Como estamos em busca de felicidade e prazer, este tipo de informação agrada porque não requer filtro algum ou conhecimento prévio.

É importante pensar, que o trabalho crítico que muitos pesquisadores e filósofos trazem à luz com relação às redes é descobrir e antecipar coisas que não conseguimos enxergar, seja pelo pensamento ou observação. Muitas não nos agradam e causam repulsa. Isso porque quase nunca acreditamos que estamos errados. Pensamos que somos imunes aos malefícios e isso pode ser percebido pelo grau de instrução das pessoas. Quanto menor, mais somos capazes de nos envolver às crenças, sermos enganados e levados a acreditar em qualquer coisa.

Tanto que a maior preocupação política hoje é com as notícias falsas, influenciadores radicais e pessoas que servem a uma ideologia. Na maioria das vezes não observamos as informações com os cuidados necessários e a devida compreensão dos fatos.

As redes conseguiram apartar grupos sociais em seus lugares comuns e isso não é nada bom. Na verdade é perigoso, pois cada vez mais estamos perdendo a capacidade de ver o outro na gente mesmo. A isso eu chamo de falta de empatia, solidariedade, companheirismo, entendimento das dificuldades de cada um.

Precisamos perceber, urgentemente, que as redes nos manipulam para vender, sem nos dar a chance de dizer não.

** O autor é Jornalista, Redator Freelancer e Consultor em Marketing Político.

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