Queimando a largada

Queimando a largada
Diógenes didi Marketing político
Para ter vida longa na política é preciso entender a “arte de governar os homens”

*Por Didi Pasqualini

Venho defendendo, há muito tempo, que a propaganda é apenas uma ferramenta do Marketing, esteja ele em qual segmento estiver. No caso aqui, a conversa é sobre o Marketing Político, e o objeto a ser superficialmente abordado é João Doria. Desde que apareceu com maior ênfase no mundo político em 2016, o ex-prefeito de São Paulo e depois governador fez da propaganda papel-chave na criação de suas ações.

Nas ruas e mídias, usou o corpo para incorporar sua logomarca - que terminava com bordão pedindo que as pessoas acelerassem. Ao definir essa identidade, corpo e propaganda se tornaram um só objeto dentro de uma embalagem/design capaz de transmitir um rótulo que produziu certa eficácia. Na semiótica, definimos como qualidade, sensorialidade e propriedade o que produz uma relação simbólica capaz de transmitir algo ou produzir um signo.

Do ponto de vista eleitoral, Doria venceu ao se aproveitar de uma onda conservadora que crescia em 2016, principalmente nos Estados Unidos, e se tornou estável em 2018 com a eleição presidencial no Brasil. Mesmo sem um discurso claro, nas eleições ao governo do Estado obteve 51,7% dos votos no segundo turno. Sua vitória, em parte, foi alcançada graças por colar sua imagem à do presidente eleito.

A realidade de Doria foi a estratégia do uso/descarte. Bolsonaro, a quem apoiou e colou sua imagem na campanha presidencial passada, passou de amigo a inimigo estratégico. O mesmo ocorreu com lideranças dentro de seu próprio partido. Lula, seu alvo preferido, passou a ser poupado, pois lidera as pesquisas, e neste momento falar mal pode ser ruim para suas pretensões.

Neste momento, tanto Doria quanto os demais candidatos vão ter dificuldade para criar uma retórica inteiramente diferente que contemple crise, falta de confiança no futuro, desemprego e inflação, argumentos hoje dominados com maior facilidade pela esquerda.

A reflexão que se faz em muitos casos que analiso é que quando falta marketing sobra o desejo de impor vontades para atingir o maior objetivo possível. Quando faltam pesquisas, inteligência e profissionais qualificados sobra o senso comum, digamos, comum hoje em dia em tempos de conhecimento de “internet”. Talvez não seja este o caso de Doria.

Costumo dizer aos meus assessorados que quando se deseja vida longa na política é preciso entender a “arte de governar os homens”. Vejo que muitos políticos mais jovens e inexperientes buscam convencer as pessoas daquilo que elas já estão convencidas. Buscam todo tipo de aliança em nome de uma “maioria” artificial.

Por outro lado, não se governa sem desafios, fraturas e discussões. Querer colocar a maioria dos partidos dentro de um único governo pode parecer cômodo no mandato, pois a unanimidade provoca falsa segurança, mas terrível na eleição, afinal, todos têm um único desejo: chegar ao poder, mesmo que temporariamente sejam coadjuvantes.

** O autor é Jornalista, Redator Freelancer e Consultor em Marketing Político.

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