As eleições

As eleições
O palanque eleitoral em rede produz muito, mas fala pouco ao eleitor.

*Por Didi Pasqualini

É inegável que o processo eleitoral está cada vez mais denso, concorrido e caro. Com mais recursos aos partidos com o Fundo Eleitoral e as facilidades de midiatização das campanhas, a disputa nas redes sociais será cada vez mais acirrada, difícil e repetitiva. Conclusão: as candidaturas, assim como as redes, estão se tornando cada vez mais banais. Por outro lado, existem conceitos que permanecem e criam estabilidade no mundo, mesmo com toda a tecnologia que temos à disposição. Um deles é o surrado “as eleições deste ano têm impacto na próxima, ou seja, em 2024”.

Em todos os manuais de marketing digital que pipocam pela rede, a palavra de ordem é antecipar o processo e ocupar os meios e isso quer dizer, empilhar qualquer coisa a fim de aparecer. Sim, as redes sociais trabalham a lógica dos canais de televisão, só que a programação é feita por uma legião de voluntários que gera atração gratuitamente para manter a “programação”, que hoje chamamos de conteúdo.

A questão que se agiganta é como encontrar espaço para dizer algo que faça o eleitor entender que a política tem papel determinante em sua vida?

Talvez a resposta esteja no próprio meio político. Uma classe que diz facilmente que o “outro” é ladrão, produz notícias falsas, etc., acaba, mesmo que sem querer, se desmerecendo, desmoralizando e fornecendo ao eleitor ferramentas para repulsa. Quando um político tende ao resultado que seja mais favorável a si mesmo, as suas necessidades e prazeres, é difícil planejar alguma coisa que tenha o eleitor no centro das atenções. Percebe a dificuldade em colocar as coisas em ordem?

Venho insistindo, há muito tempo, que o Marketing Político não se resume à estratégia em rede, que é apenas uma embalagem no processo todo. É preciso conteúdo, entendimento plural de mundo, ter certa relação com aquilo que o sujeito busca se especializar. Um candidato preparado se torna forte e atrai apoios com maior facilidade.

O Marketing Político também carece de profissionais que enxerguem além das redes. As novas tendências das relações estratégicas não estão escritas nos processos de empilhamento das coisas, mas na originalidade com que uma oportunidade pode ganhar dimensões que vão além dos próprios meios.

O que digo acima é inspirado em Volodymyr Zelensky, o comediante que virou presidente da Ucrânia. Ele jamais poderia imaginar a dimensão de sua “guerra” de informação contra a guerra convencional. As redes o conectaram ao mundo e o ajudaram a “blindar” seu País. Quando alguém consegue penetrar na mente das pessoas, não há poder o suficiente para tomar posição. Não tem como mudar a mente depois que a opinião pública já decidiu. A dinâmica do processo eleitoral é a mesma; ou seja, não é aquilo que você faz, mas o que as pessoas pensam e falam sobre você.

** O autor é Jornalista, Redator Freelancer e Consultor em Marketing Político.

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