Estrutura “fake”

Estrutura “fake”
O simples exercício do questionamento - “será que é verdade isso que me chega?” - já derrubaria grande parte dos boatos ou fake news.

*Por Didi Pasqualini

A quem consome, principalmente, as “informações” políticas nas redes sociais imagino que a escolha dos que serão eleitos este ano será tarefa bastante árdua. Isso porque, nelas, verdade, mentira, meia verdade, verossimilhança ou aparência se misturam em um looping sem cessar. E a estratégia de construir boatos se faz presente em todas as estruturas partidárias, podendo ser “oficiais” ou militantes que tomam o discurso de sua preferência e o mantém nas redes estimulando sua reprogramação constante.

Teoricamente as notícias falsas são interconectadas por um conjunto de pessoas ou profissionais que não apenas se ligam a elas, mas manifestam novas retóricas, imagens, gráficos, sequências sonoras e assim são produzidas novas conexões que voltam a ser linearmente entrelaçadas pelo mesmo discurso. Se a gente analisar um pequeno nó disso que estou tentando explicar podemos perceber que o tema corrupção, por exemplo, se divide em vários outros, formando assim um "desenho" simbólico onde a informação, ou a verdade, não consegue penetrar.

A operação elementar disso tudo é produzir, na maioria das pessoas em rede, juízo de valor. O combustível disso é a captura pela rapidez da imagem e pelo excesso. Falar apenas uma vez não condiz com o ambiente de consumo que a rede exige. É preciso empilhar muita coisa igual, só que de forma parecida para que o “consumidor” se mantenha fiel ao produto.

Não à toa que pouquíssimos influencers conseguem produzir algo interessante por um tempo sem se tornarem cansativos, mas saber repetir velhas novidades prende o seguidor, que não precisa fazer muito esforço intelectual para perceber que está vendo a mesma coisa e aquilo não vai "incomodar" muito suas sinapses. Quando nos acostumamos a pensar de forma robotizada todo estímulo que nos faz pensar de maneira diferente ou questionativa, faz com que nossos pensamentos entrem em conflito. Não rejeitamos apenas por rejeitar, mas por desaprender a construir novas conexões. O simples exercício do questionamento - “será que é verdade isso que me chega?” - já derrubaria grande parte dos boatos ou fake news.

Em uma eleição polarizada, como deve ser este ano, quem conseguir fazer com que a informação estratégica faça parte do envolvimento pessoal do eleitor, mais chances terá de sua eleição. A nossa natureza é agarrar-se a sentimentos que possam ser resolvidos por outra pessoa. Questões como igualdade e justiça são ferramentas norteadoras deste debate. Não só o marketing político se serve delas, como as redes as alimentam sem cessar desta expectativa que é criada a cada eleição.

Imagino que seja mais do que sabido que nas redes aquilo que se obtém sucesso e vende bem, exige que as coisas sejam cada vez mais aplainadas, lisas e de fácil entendimento. Há alguns anos as campanhas buscavam interpretar o eleitor com objetivo de persuasão, hoje essa interpretação tem de ser nas redes, nas bolhas que se formam dentro delas e na aceitação ou rejeição que elas carregam. O desempenho acontece quando a equipe consegue decifrar o argumento de campanha, aquele que está na rede, pronto para ser usado.

** O autor é Jornalista, Redator Freelancer e Consultor em Marketing Político.

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