"Rouba, mas faz"

"Rouba, mas faz"
A ideia do “rouba, mas faz'' volta à cena política, hoje para justificar voto em Lula.

*Por Didi Pasqualini

Um dos bordões mais destacados na política brasileira é o "Rouba, mas faz". Por esta lógica, é possível entender que quem ostenta o bordão é ligado à corrupção.

Os escândalos são sempre prejudiciais para os políticos, porém é importante analisar - e este é o objetivo deste texto - como o interesse do eleitor pode ampliar ou atenuar este signo.

A história nos conta que foi com o ex-prefeito de São Paulo, segundo minhas pesquisas, Adhemar de Barros, que este termo se popularizou. Mais recentemente, a pecha foi colada em Paulo Maluf, figura conhecida no cenário nacional e que se notabilizou por decisões polêmicas e obras que marcaram seu nome no Estado de São Paulo. Maluf assumiu, mesmo que indiretamente, o slogan e até tirou proveito desta "assinatura", cujo simbolismo não deixa de ser eficaz naquilo que a frase articula em dado momento histórico.

Na última semana, ouvi nas ruas de minha cidade este bordão. Foi de um cidadão, ao justificar a seu interlocutor seu voto a Lula. Aí o entendimento traz uma justificativa bem interessante: o esvaziamento do principal posicionamento bolsonarista em 2018: a corrupção.

As frases atribuídas a determinados políticos muitas vezes mudam de significado através do tempo. Há neste momento certa "regulamentação" do que é corrupção e afazeres do político. A amplitude dos códigos muitas vezes se perde com o tempo e situação econômica pela qual passa grande parte da população. Talvez aí se justifique votar em alguém que traz sua marca associada ao roubo ou corrupção. Por mais que a conotação do discurso tenha nuances de sentido, o momento não pode ser analisado por estas questões.

Em uma eleição presidencial polarizada, como a que se desenha este ano, há certo perigo na "canibalização" do termo, que foi muito usado e hoje, pela conjuntura em que vivemos, começa a perder sua importância. Mas não é apenas o "Rouba, mas faz" que voltou à cena. Em 2018, Bolsonaro abusou de alguns que em outras épocas dificilmente lhe garantiriam popularidade. Porém o momento era outro, a corrupção estava na mídia, o que exigia outra atenção do eleitor. Pautas como custo de vida, inflação e outras não faziam parte do dia-a-dia da grande maioria da população.

Hoje, a "corrupção", paradoxalmente, é aceita por um grupo e rejeitada por outro. Não se trata de fazer juízo a quem quer que seja, ou mesmo rogar algum preceito moral ou até religioso a um princípio que não requer racionalidade, mas dependência a certas carências que atingem boa parte da população.

A fome e o desemprego, principalmente, paralisam qualquer tipo de fé, obediência, ideologia ou mesmo uma ordem a que nos é submetida. Em dado momento, quando nos encontramos inteiramente incapazes e à disposição da vontade do sistema, sem forças, tentar sobreviver é a única coisa acessível antes da morte.

** O autor é Jornalista, Redator Freelancer e Consultor em Marketing Político.

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