Idolatria

Idolatria
Manipulação e idolatria nos tiram o pensamento crítico

*Por Didi Pasqualini

Este texto leva a refletir sobre a polarização que cristalizou a eleição para presidente no Brasil. Isso se deve à idolatria formada em torno de dois nomes. Diante deste cenário é cada vez mais raro pessoas “interessantes” se lançarem à política. A polarização quase que transcendente paralisa qualquer tipo de adesão de qualidade fora do eixo binário eleitoral vigente, e esta cegueira faz com que valores que defendíamos ontem sejam alterados hoje porque aquele a quem idolatramos pensa diferente.

A percepção da maioria do eleitorado se tornou condicionada a pequenas recompensas pseudomorais, do tipo o meu é mais F… que o seu. São essas pequenices que passaram a ser as interações políticas na sociedade. Não estamos mais esperando por mudanças, projetos, progresso, solução de problemas, saímos em busca de efeitos que são reforçados cotidianamente para que a maioria não precise pensar no Brasil.

A política está se tornando cada vez mais miserável porque, no fundo, ela não vem cumprindo seu principal papel, que é dar sentido e esperança à vida da grande maioria das pessoas. Sem um sistema de significados, de valores, de algo que leve as pessoas a acreditar, nossa voz tende a perder sua função de ser.

Vivemos o fim da democracia? Penso que este mundo populista presidencial se assemelha ao sistema de crenças e práticas coletivas que leva as pessoas a um lugar sem volta, em que profano e sagrado se encontram em um só corpo.

Vivemos uma era em que não buscamos o presidente, apenas compramos seus efeitos, suas falácias, sua magia de transformar as ideias da maioria em produto genérico, sem expressão, crença ou convicção.

Vejo com grande entusiasmo a audácia de outros candidatos que insistem em manter seus nomes na disputa, mas, com tristeza, a insistência e pressão pelas quais a maioria das pessoas está passando por declarar voto no candidato a presidente mais desconhecido.

Essa fantasia “militante” abraça quase toda conversa política, que na maioria das vezes se transforma em guerra de simbolismo próprio. Estamos “ouvindo dizer” e assumimos significados arbitrários, sem conhecer. Justo agora que ascendemos ao patamar da sociedade da “informação”? Será que não estamos sendo adestrados pelo excesso de informação? Qual é o limite dessas crenças e preconceitos lançados todos os dias sobre a sociedade?

Sabemos, há muito, que o exercício do entendimento, do diálogo, das boas práticas de convivência em sociedade determina nosso bem-estar no mundo. Não podemos ser causa e efeito dos horrores alheios. Estamos doentes, e isso talvez não traga significado a nenhum dos polos, porque a essência da polarização é fazer com que o medo seja nosso companheiro cotidiano.

Às vezes me espanto com pessoas que conheci há muito tempo e que foram transformadas pelo vício que se tornou ocupar apenas um dos dois lados.

Na realidade, acho que poderemos ter surpresas em outubro. Esta aparente parcialidade de boa parte do eleitorado, a um dos lados, pode ser estratégia para conter o ânimo daqueles que cobram um posicionamento determinista.

** O autor é Jornalista, Redator Freelancer e Consultor em Marketing Político.

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