Onda

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*Por Didi Pasqualini

A onda Bolsonarista se manteve nas eleições. Candidatos que colaram seus nomes ao Presidente se saíram bem, como Damares Alves, Tereza Cristina, Marcos Pontes, Romário, que se filiou ao PL do presidente, sem contar os reeleitos, como Zambelli. Colar sua identidade a uma causa ou bandeira funciona, pois traz no imaginário das pessoas algo que já está estabelecido dentro da conveniência que temos em pensar pouco quando a complexidade pede certa dose de conexão com outras coisas.

Na Assembleia paulista, o veterano Eduardo Suplicy foi eleito com mais de 807 mil votos. Na região de Piracicaba, Hélio Zanatta, ex-prefeito das cidades de São Pedro e Charqueada, foi eleito deputado estadual e passa a ocupar um espaço que antes pertencia a Roberto Moraes, que desde 1998 colecionava sucessivas vitórias. Em Limeira não foi diferente, o eleitor fez a lição de casa ao eleger para deputado federal Miguel Lombardi.

Na região de Rio Claro a expectativa era pela reeleição do deputado Aldo Demarchi à Assembleia. Apesar de ter feito boa campanha, o tempo em que ficou fora do mandato e a recuperação da Covid cobraram seu preço.

Além do mais, a candidata a presidente de seu partido, Soraya Thronicke, e o apoio ao governador Rodrigo Garcia o deixaram na contramão da polarização e da preferência do eleitorado. Como em 2018, as candidaturas ao Legislativo cobraram um lado. Na região, assim como no Estado, o lado era do Presidente, sem a menor dúvida.

Outra questão que pode ter influenciado a redução de votos ao parlamentar é sua ligação histórica com o PSDB. O partido vem perdendo espaço e identidade política. Sua raiz com Montoro, FHC e Covas, para ficar nestes três, permeava mais o centro esquerda do que a direita radical trilhada por Doria, e agora, Rodrigo.

Nunca é tarde lembrar que ao ser eleito como Bolsodoria em 2018 e fincar bandeiras no movimento “Vem pra Rua” o partido escolheu namorar com o radicalismo. Ajudou a criar um “mito”. Logo em seguida pagou preço alto ao tentar fazer frente ao Presidente com as vacinas. Doria foi massacrado pela máquina federal e, apenas por seis anos sob os holofotes, perdeu totalmente a identidade. Rodrigo resgata apoio a quem tirou dos Tucanos a chance de ser a terceira via. É impossível estar sempre surfando nas altas ondas.

Por fim, volto ao início para falar sobre o imaginário que nos afeta na polarização e tem tudo a ver com a mudança política, redução da corrupção e representatividade, sonhos de nosso consumo político que não aconteceram. Talvez, Juremir Machado da Silva, em seu “O que pesquisar quer dizer”, ajude a pensar melhor. Ele diz que, consumado o imaginário, desmontá-lo é quase impossível, por razões de rejeição à crítica, sua sustentação sobre a emoção, laços afetivos, dogmas e sua positividade. Adicionaria aí a fé e a religiosidade que tomou conta das campanhas e seu uso - que se mistura à palavra de Deus para redimensionar valores políticos, seja ela em qualquer esfera ideológica - as quais têm se tornado estratégia eleitoral. O pastorado nunca esteve tão em alta como agora.

** O autor é Jornalista, Redator Freelancer e Consultor em Marketing Político.

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