Marketing pós-moderno

Marketing pós-moderno
As telas ocuparam a nossa vida e nos educam para um pensamento único

*Por Didi Pasqualini

Se a democracia vive seus dias de incertezas, o marketing político encontrou sua pós-modernidade na onda das ideias que sugerem intervenção, o falseamento das realidades políticas, movimentos que limitam a locomoção das pessoas, ataques a lideranças e sistema institucional.

A perda do sentido das coisas, o niilismo, o fanatismo religioso, a violência, o racismo, homofobia, xenofobia, o machismo, a doutrina do individualismo, a divisão de classe, o fascismo estão em alta e são ferramentas dos estrategistas, principalmente os que operam em rede, e sob seus signos ainda seguimos vivos alimentando aquilo que representa uma falsa identidade dos nossos sonhos de grandeza, culto à violência, poder e devoção feroz a "um salvador", criado pela publicidade e que funciona como mito para fixar tudo isso no imaginário popular.

Mas o que as estratégias de marketing têm a ver com tudo isso? O marketing político, a grosso modo, se nutre de esforços para criar projetos que encontrem pessoas na sociedade que estejam dispostas a levá-los à população. Ele busca atender a uma demanda.

Em todas as campanhas que trabalhei e estudei, pude notar que o marketing ensina que são necessários esforços para contemplar toda a sociedade. No entanto, nos dias que seguem, esta tarefa tem sido esvaziada. O conceito que se cristaliza em um horizonte bem a nossa frente é de um marketing político que sustenta a criação, distribuição e valorização da mentira, notícias falsas e divisão social - uma fábrica perversa de produção de sentido que busca um inimigo imaginário e que fomenta a luta que canibaliza a própria sociedade e seu meio ambiente. Este me parece ser o padrão que aponta para o marketing político pós-moderno.

Não são necessários muitos estudos para perceber que as mídias digitais são, particularmente, a porta de entrada para a valorização desses preconceitos que, indubitavelmente, ganham valor à medida em que somos "educados" pelo radicalismo e notícias falsas que correm aos montes nas telas de nossos celulares.

Ao consumir o ódio não enxergamos o outro, o político, o ambiente em que vivemos; assim, jogamos no lixo nossa autoestima, fragmentamos amizades antigas, rachamos famílias, diluímos comunidades, alteramos a harmonia do viver em sociedade.

Produzir estratégias de marketing político hoje está associado à construção de um inimigo, e o alvo são as minorias que historicamente lutam para que seus direitos possam ser reconhecidos.

Os movimentos oportunistas que são mantidos em todo o País são a porta de entrada para novos candidatos que, de olho nas próximas eleições, colocam seus interesses nesta máquina social que não aceita o resultado das eleições e busca a todo o custo que seus desejos de consumidor sejam satisfeitos. Saber lidar com a opinião pública hoje é manter seus desejos em alta. Sendo assim, o marketing pós-moderno, fruto desta imaginação popular, alimenta essa gente com sonhos e esperança, satisfaz seus controles e vontade de vingança. Esta força rende votos e até a reeleição a candidatos que precisam plugar a consciência do eleitor neste enredo.

** O autor é Jornalista, Redator Freelancer e Consultor em Marketing Político.

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