Satisfação garantida

Satisfação garantida
O problema do bolsonarismo não se trata de representação política, mas se constitui por um sistema de crença, paixão e fanatismo.

*Por Didi Pasqualini

O marketing de consumo cultua uma ideia bem definida quando se trata da relação com o cliente - satisfação garantida ou seu dinheiro de volta. No marketing político, o entendimento de satisfação - mesmo para quem “comprou” esta retórica - não comporta devolução imediata, mas, sim, após quatro anos. A satisfação neste caso é subjetiva, pois se mistura a certo grau de esperança e desejo de mudança a quem ou ao grupo que entende a necessidade de algo melhor para si ou seu país.

O que assistimos hoje choca este padrão de normalidade. São grupos de pessoas alinhadas na tentativa de dar autenticidade a uma ideologia que não se ancora no modelo democrático, mas no poder da publicidade que se deu à aversão a um tipo de governo, no caso, a esquerda

Mas por que instituições, lideranças e parte da sociedade vêm insistindo nesta tecla e nos fica a impressão de que todos estão contra? Talvez o motivo seja a imposição, fora de uma regra, distante dos preceitos democráticos, que busca impor vontades apenas.

Uma situação como a vivida pela nação no último domingo (08/01) não só deixou a sociedade perplexa como mostrou ao País o que são grosserias e injustiças. Regredimos ao primitivismo ao assistir a grupos dispostos a impor a coerção e o medo aos sistemas institucionais e à maior parte da sociedade.

Sabemos há muito que quando um povo está dividido ele não está ordenado; portanto, quando jovens promoveram em 2013 atos em todo o País ou a grande massa de pessoas pedia eleições diretas em 1984 na Praça da Sé em São Paulo, tínhamos o exercício da democracia, pois não houve uma hierarquia de classes tomando algo para si - o controle. Havia, portanto, uma ordem.

Diferentemente, o que se viu agora foi um ato que visava apenas à diferenciação ideológica apoiada por dezenas de ilegalidades. O ato em si pode ser considerado um "brilhante" protesto da individualidade de um grupo que, ainda fascinado pelo poder, deixou acordar adormecidas paixões pelo fanatismo, desordem e a morte da democracia. Devemos lembrar que nenhum poder chega ao fim apenas pelo desejo de parte de um povo, quando isso ocorre estamos longe de legitimar a democracia.

Por outro lado, não se pode menosprezar o fato de que existe uma opinião pública que acumula pretexto para rejeição ao governo que começou recentemente. Neste sentido, toda a aclamação e liturgia que foram preparadas para aquilo que vem sendo chamado de golpe, intervenção, seja lá o que se deseja nominar, cumpre um desejo de condução ao poder de um salvador capaz de livrar o País de todos seus males.

Não é justo oferecer à maior parte da população o "sacrifício" da liberdade em nome daquilo que se glorifica. Diferentemente do que está sendo proposto pelos manifestantes, a liberdade foi mantida, pois a essência dela nos diz que somos livres para pensar e escolher os nossos destinos, e talvez a luta agora não seja pela defesa desta ou daquela ideologia, mas a reconstrução das nossas relações. Não começamos bem 2023.

** O autor é Jornalista, Redator Freelancer e Consultor em Marketing Político.

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